domingo, 29 de novembro de 2015

3º dia de Expedição do Delta do Parnaíba

3° dia - 5 outubro

Nicolau Resende foi o primeiro europeu a relatar a existência do Rio Parnaíba, por volta de 1640, quando sofreu um naufrágio nas proximidades de sua foz. O nome Parnaíba foi dado pelo bandeirante paulista Domingos Jorge Velho, como uma referência à sua vila natal, Santana de Parnaíba. A partir da formação do território da província do Piauí, em 1718, o Rio Parnaíba passou a ser o divisor geográfico com o Maranhão.

Acordamos por volta das 5h, não havia o que desmontar, apenas arrumar as roupas e juntar as tralhas enquanto aguardávamos o café. Agradecendo novamente a todos que nos recepcionaram na Coroa de São Remígio, pela atenção, hospitalidade singela, amizade que jamais se apagará em nossas mentes nesta passagem,  Valeu Allan e Zé Bandeira.


O Zé Bandeira, outra figura ilustre que tivemos oportunidade de conhecer, estudou Psicologia na USP, e atualmente reside em Coroa de São Remígio/PI. Na hora de nossa partida fizemos o registro, juntamente com o Allan, que deixamos para trás com esperanças de um dia reencontrar os mesmos. Já passava das 6h, merecidamente em um belo registro.

A meta para cumprir a distância do dia era de 46km, e assim partimos. A paisagem a frente era a mesma dos outros dias: barrancos, muita destruição às margens e árvores caídas pela erosão do rio em épocas com mais volume de vazão.

O vento chegou cedo neste dia, nos pegou de frente. O grupo sempre procurando uma área mais abrigada do vento somado à correnteza que nos levava é a combinação perfeita para uma descida em rios, cobrimos um ótimo trecho em pouco tempo.

No meio da manhã, o vento incomodava um pouco nossa viagem, foi aí que resolvi me separar do grupo a fim de ganhar tempo em menos esforço. 

O grupo seguiu em águas mais mansas pelas beiradas onde não havia corrente, em compensação muito vento de frente, informei ao líder que iria pegar um outro traçado, e assim segui.

No foto acima, momento em que estava sozinho, o Júlio Cesar permanecia navegando junto com Sergio Bandeira (Bandeira), e minha estratégia deu certo! hehehe, em troca, as vagas enormes na minha frente, 0,8 metros de onda, o barco subia e descia, batia demais, marolas uma atrás da outra sem parar, e eu sempre mantendo o barco de frente para as ondas.

Ao navegar afastado, ser prudente sempre que possível, manter no visual os companheiros de viagem e nunca esquecer que você está sozinho. Ao adiantar-me encontrei um belo banco de areia, estava à frente por mais de 600 metros, aproveitei e descansei um pouco enquanto curtia um belo visual próximo a uma grande ponte construída na MA345, ligando o estado do Maranhão à BR343, acesso a Parnaíba/PI. Observe a marca da água na pilastra da ponte, tomando como referência a passagem do Júlio naquele momento, 8 metros aproximadamente.

Às 11:30h fizemos uma parada para lanche e hidratação em um pequeno trecho de terra, lembro que havia muita pedra, tive que parar o barco em cima de um toco. Como o barco estava carregado, o casco, ao bater em uma pedra, poderia ter danos, e isto é a última coisa que queremos em uma expedição.

Seguindo viagem, escutei uma coisa e fiquei assustado na hora, observei com calma e percebi um barulho diferente, de corredeira à frente. Era nada mais do que, naquele trecho de 1km, pedras que afloravam e a correnteza, ao passar, fazia o som de uma corredeira.

Este dia foi marcado por uma grande área de reprodução de aves. Gaivotas, maçaricos e outros chegavam praticamente a nos atacar, passavam próximo aos nossos barcos, como se fôssemos uma ameaça aos seus filhotes. na defesa de suas crias faziam muito barulho, natureza extrema, um dos lugares mais bonitos de nossa expedição.

Por volta de 13:30h fizemos uma outra parada para se alimentar e hidratar, pois ali, no meio do trajeto, não havia restaurante hoje. Às 16h, estávamos passando pelo canal que dá acesso à cidade de Parnaíba, e ali próximo seria nossa parada para acampar. Seguimos mais a frente até encontrar um barranco ou uma subida de acesso mais fácil sem ter que se melar muito de lama, mas não tinha jeito, lama por todo lado.

Ao final da tarde, encontramos um restaurante onde encomendamos uma ótima peixada, dormimos em redes e acertamos o café da manhã do dia seguinte, era tudo que precisávamos depois de 48km de remada.












terça-feira, 10 de novembro de 2015

2º dia de Expedição do Delta do Parnaíba

Domingo - 04 outubro

O rio tem suas origens no Parque Nacional das Nascentes do Rio Parnaíba. Localizado na Serra da Tabatinga, limita Piauí com Bahia, Maranhão e Tocantins, lugar onde dá origem aos cursos dos rios Lontras, Curriola e Água Quente que, unidos, formam o rio Parnaíba.

Ao acordarmos, o sol já apontava no horizonte para mais um dia de descida. Tirar foto do nascer do sol, desarmar a barraca, tomar café e arrumar o barco para zarpar, rotina essa que será repetida pelos dias que iremos passar aqui no delta. Desfrutar de um novo dia de viagem é tudo que há de melhor em uma viagem como esta, esquecer um pouco do mundo e cair no rio para remar.

Alguns mosquitinhos e pernilongos ainda rondavam nossas canelas quando iniciamos a remada. Não lembro exatamente o horário, mas sei que já passava das 7h, o sol já esquentava, e como havíamos remado além da cota do dia anterior, hoje seria menos um pouco. O importante é cobrir a meta, nunca deixar a menos para compensar no dia seguinte, na verdade não sabemos o que iremos enfrentar no dia à frente.

Ao deixarmos Murici dos Portelas, atravessamos ligeiramente o rio para sair um pouco da lama que havia próximo ao barranco, mal podíamos arrumar o barco, sem contar da lama dentro da embarcação. Lavei o barco, tirei um pouco da lama, na verdade fiz uma pequena faxina, é preciso de vez em quando...

O rio continuava manso, sem muito vento, superfície espelhada e corrente descendo com pouca força. Havia uns trechos do rio que navegávamos a 12km/h, mas a média era de 8,1 km/h. Segundo fontes ribeirinhas, a época de maior volume do Parnaíba é entre os meses de dezembro a março.

Nossa primeira parada do dia foi em um belo banco de areia. O dia estava muito quente, a pouca brisa dá a sensação de mais quente ainda. A água fresca do Parnaíba foi gostosa e providencial para um mergulho, a vontade era de ficar ali o dia todo, mas... muita água a navegar, fizemos um breve lanche com frutas, barrinhas de cereal, hidratação e seguimos em frente.
Os barrancos que mostramos aqui indica de que a erosão existe forte, carrega muita areia de um canto a outro. Os povoados existentes à beira do Parnaíba estão longe das margens, pois em tempos de água em abundância ficam protegidos dos alagamentos que a altura do rio possa provocar.


Remamos menos que o dia anterior, foram 33 km até chegarmos em um povoado de nome Coroa de São Remígio, local escolhido para dormirmos. Ficamos à beira do rio, melhor para descarregar o acampamento e para passar o olho nos barcos.

Ao chegar neste povoado, no bar havia muita música e bebidas, festa todo dia e o dia todo. Sondando e conhecendo a pequena cidade... fomos muito bem recepcionados por moradores, e conhecemos o Allan Victor, sua família e o Zé Bandeira. O Allan tem um blog, e nele registra os acontecimentos do local e região, assim mantém informado tudo que acontece por lá. Dona Maria, a mãe de Allan, e dona Amparo, sua tia, prepararam uma ótima refeição para o nosso grupo: galinha à cabidela, feijão, farinha d´água e cuscuz, sem contar que no dia seguinte o café da manhã foi tão bom quanto o jantar.


Encontramos pessoas de bem em toda nossa expedição, pelo interior do Piauí e Maranhão até o delta. Pelo menos nesse dia não foi necessário armar a barraca, dormimos em um barracão onde o bar não funcionava durante à noite e aproveitamos para colocar as redes para dormir.



quinta-feira, 29 de outubro de 2015

1º dia de Expedição no Delta do Parnaíba


Sexta - 2 de outubro

A expedição do Rio São Francisco deixou um gostinho de quero mais e, assim, aconteceu! Demos início a Expedição do Delta do Parnaíba. O Sérgio Bandeira começou a articular a expedição e pesquisar na internet tudo que poderíamos precisar em relação a apoio durante a viagem na descida do rio. Então ficou marcado com o grupo para iniciarmos a expedição saindo de Luzilândia no sábado, dia 3 de outubro.


Alguns dias antes, o Bandeira partiu de carro, eu fui de avião para Teresina no dia 2. Lá encontrei nosso amigo Fabio Neiva, que, por ter compromissos, não pôde participar. Almoçamos por Teresina, e do restaurante ele me deixou na rodoviária. Num trajeto direto para Luzilândia, cheguei no destino final por volta das 19:30h. Para quem saiu de casa umas 4:30h da manhã, eu estava muito cansado, ainda havia feito conexão em Brasilia... Bem, no final deu tudo certo.

Sábado - 3 de outubro

Na pousada em que ficamos não serviam café da manhã, tivemos que ir comer no mercado público de Luzilândia. Aproveitamos para tomar um café bem reforçado, pois não sabíamos o que viria pela frente durante todo o dia.
Saímos eram quase 9:00h, muita coisa para arrumar no barco, muita tralha, e tudo deveria ficar encaixadinho nos compartimentos estanques dos barcos. Partiu: eu, Sergio Bandeira e a esposa Valeria e o Júlio Cesar Soares Lira.

O rio descia bem forte, água de cor barrenta, típica daquela região, nos levava a uma velocidade média de 8.5 km/h. Logo nos primeiros kms, passamos por baixo de uma ponte, construída a pouco tempo, ligando a cidade de Luzilândia/PI ao estado do Maranhão, e assim foi toda nossa viagem, do lado direito o estado do Piauí e esquerdo o do Maranhão.

Desde o momento em que iniciamos a remar, observamos que o rio estava muito baixo, pelo menos uns 7m, muitas barreira pelas encostas do Parnaíba e isto era constante. O tempo estava muito quente e como não havia vento naquela hora da manhã, a sensação era de abafado, um mormaço... e assim foi todo o dia de remada.

Observando durante nosso deslocamento, em alguns trechos haviam muitas ilhotas, normal nesta época em que o nível da água encontra-se mais baixo. Muitos bancos de areia também apareciam por ali, sem contar o belo visual da paisagem que iríamos encontrar naquela região.

Muitas fazendas à beira do Parnaíba, cada pedacinho de terra que encontra a beirada do rio, tem sua rampa de descida para os animais beberem água e cercado para que o gado não ultrapasse para terras vizinhas. Nossa paisagem durante os primeiros dias era o Parnaíba cortando o sertão do Piauí e Maranhão e lindas árvores à beira do rio que serviam de abrigo do sol para os animais.

Aos 15km, mais ou menos, paramos para um pequeno descanso num lugar onde havia exploração de areia, isso me chamou atenção.

Seguimos nosso roteiro, o rio parecia um espelho de tão liso, alguns animais apareciam nas encostas. Aproximou-se um casal de carcará, passei bem pertinho deles, o contato com a natureza nesses momentos é tudo de bom numa expedição como esta, dá uma sensação de limpeza na mente da gente, nos desligamos do mundo.

Nosso destino era 40km, resolvemos esticar alguns kms à frente, pois havia um povoado onde poderíamos fazer uma boa refeição, e foi assim que aconteceu em Murici dos Portelas. Remada do dia: 48,5km. Cansei um pouco, alguns problemas durante a remada como falta de condicionamento me fez sentir câimbras neste primeiro dia, mas nada que uma boa lasanha de frango e uma volta pela cidade não resolva.


quarta-feira, 9 de setembro de 2015

5o. dia - Epedição de Revitalização do São Francisco

17 de fevereiro de 2015 - De Pão de Açúcar a Jacobina - 42 km

Acordamos cedinho novamente, desmontamos acampamento, tomamos um bom café da manhã, arrumamos as bagagens nos barcos e seguimos para mais um dia de remada. O dia estava ótimo pra remar, com um pouco de sol e o céu azul, bonito para as fotos, sem vento, o leito do rio parecia um espelho.

O trecho de remada é bom, corrente muito a favor, tinha que ter atenção somente nos atalhos, pois tinha muitas ilhas formadas pela erosão da corrente, ela leva sedimentos e bastante areia e forma as ilhas. Caso acontecesse de remar numa dessas curvas por fora da tangente, você poderia aumentar o percurso em até 3 ou 4 km numa única curva do rio. Para que isso não ocorresse, cada um levou um mapa impresso em lona com fotos via satélite para acompanharmos as menores trajetórias, ficou show!

O rio tem uma coisa interessante, não sei se vou saber explicar: a correnteza que o rio forma quando está mais raso leva bastante areia e, mais adiante, quando esta corrente diminui, forma como se fossem batentes de bancos de areia, e assim sucessivamente, daí pra frente será assim quase todo o percurso, pelo menos até Propriá/SE.

Lembro bem de muitos trecho em que remei, quando revejo minhas fotos, algumas identifico na foto de satélite exatamente onde foi batida, às vezes lembro de uma situação, como uma dormida por exemplo, e assim posso dizer de tudo que é inesquecível em uma aventura com esta.

Algum tempo depois, fizemos uma pausa para um pequeno intervalo e para comprar água, paramos em um lugar chamado Araticum/SE, lembro bem porque havia dois burrinhos puxando uma carroça de água para o povoado ribeirinho. De lanche, neste momento, tirei de meu barco, para aliviar o peso pois já fazia 4 dias que eu carregava, um abacaxi e Naldo foi quem se ofereceu para parti-lo e dividir entre os que havia parado.
E a viagem continuou, passamos por Belo Monte/AL. A água era de uma transparência incrível, víamos o fundo de pedrinhas e de repente entrávamos em um canal profundo, a cor da água mudava de verde esmeralda para azul marinho.

Chegamos numa cidade chamada Ilha do Ouro/SE, todos resolveram fazer compras. Fantasiados de canoístas, entramos num supermercado, cada um comprou sua necessidade e bastante água, é sempre bom levar em excesso pois nunca sabemos o que vamos enfrentar no dia-a-dia. Eu reabasteci com água, chocolate, biscoito e outras guloseimas, tem certas horas que a vontade de comer doce é muito grande, e ficar sem os docinhos, nem pensar.

Reiniciamos a remada. Precisávamos agilizar porque provavelmente iríamos dormir à beira do rio nesta noite e precisávamos chegar ainda cedo, com o dia claro, para a escolha de um bom local.

A distância percorrida por dia chegava a 40km de média. Não me lembro bem ao certo a hora de chegada a Jacobina. Na verdade, resolvemos dormir em uma ilha em frente a cidade, assim teríamos mais liberdade para acampar.
Começamos a levantar o acampamento. A quantidade de formigas que havia naquela ilhota era incrível, parecia que todas as formigas do mundo estavam em reunião na mesma ilha que nós, três dias depois ainda havia formiga no barco de Guilherme.

Parece mentira, mas, apesar de tudo, lembro que foi a minha melhor noite que passei durante os meus dias de acampamento, dormi bastante, descansei mesmo, zerado para iniciar no dia seguinte. Na primeira noite da viagem, estávamos no Restaurante do Castanho. Na segunda noite chegamos a Piranhas, comemos pela cidade mesmo. Na terceira, estávamos em Pão de Açúcar, preparamos um jantarzinho, cada um cuidando de sua alimentação. Porém, hoje, na Ilha das Formigas, foi bronca! Já esperávamos por isso, sem estrutura, cozinhando ao relento com lanternas e muita formiga, faz parte.